Bate-bate do coração
Em meio a essa bagunça, um rapaz atravessava as ruas da cidade. Cabeça baixa, olhos esmaecidos e passos lentos. Ele transitava como quem vai de lugar nenhum para nenhum lugar. Não era como se estivesse cego ou surdo, sem perceber o que o cercava, ele apenas estava alheio, e essa ignorância a respeito do mundo exterior era consciente e provocada, ou melhor, era desejada.
Algumas pessoas recebem a sorte de encontrar algo sublime ao ponto de transcenderem o rotineiro, e, depois disso, fica difícil se envolver com a normalidade da vida. Foi exatamente isso que acontecera com o rapaz. As cores das flores já não chamavam a atenção, as magníficas construções arquitetônicas não passavam de cimento e vidro. Tudo era menor se comparado ao que ele conhecera.
E tudo foi culpa dela, a dona do sorriso que o despedaçou e depois o reconstruiu. Levou-o ao céu em segundos e agora ele estava maravilhado. O brilho daqueles olhos abriu caminho para uma experiência diferente, que outrora a monotonia da existência não o permitira imaginar. Era um novo prisma, por isso as estrelas já não pareciam tão belas e nem a mais excelsa obra de arte conseguia emocioná-lo.
O nosso personagem tinha a imagem dela gravada nas córneas, e os ouvidos dele só escutavam a voz cristalina que invadira os seus sentidos como uma cantiga. Essa música era embalada pelo bate-batedo coração e gerava a melodia mais doce que os seres humanos podem encontrar.
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