Cartas Literárias #2: A Morte de Ivan Ilitch - Tolstói

Caríssimo amigo,

finalmente escrevo a carta que prometi há tempos. Peço perdão pela demora, mas o acúmulo de responsabilidades pesou e eu fiquei impossibilitado, mas vamos deixar essas desculpas esfarrapadas de lado e falar sobre aquilo que fez meu coração se aquecer.

Você já leu 'A Morte de Ivan Ilitch', do grande Leon Tolstói? Esse livro, definitivamente, me proporcionou uma das mais profundas experiências nesta vida. O enredo é simples: um burocrata mediano da sociedade russa morre e, antes disso, tem a oportunidade de refletir sobre o que de fato foi a sua vida. O nosso Ivan sempre foi uma pessoa medíocre, com objetivos medíocres e uma existência medíocre. Tudo que ele fazia era com o intuito de agradar as pessoas da aristocracia para tentar alcançar um espaço entre elas no futuro. O seu casamento, a sua faculdade, as suas decisões profissionais, enfim, tudo que ele fez foi movido por um desejo patético de ser da 'elite'.
O nosso Ivanzinho era um alpinista social do pior tipo, daqueles que se preocupam mais com a impressão que passam do que com a essência que exalam, e isso nunca havia sjdo um problema pra ele. No entanto, quando uma doença misteriosa o aflige e ele se encontra à beira da morte, questionamentos sobre o seu modo frívolo de viver o inundam. Ele fica obcecado por um pensamento: "Será que vivi do modo errado?", e a partir daí entra em uma tortura mental intensa e extremamente dolorosa. Os pilares usados para construir a sua existência ruíram e ele se viu perdido, sem bases e sem chão para se manter de pé.

Essa história me deixou muito reflexivo e eu me encontrei em algumas situações vividas pelas personagens. Quantas vezes a gente não se poda apenas para agradar pessoas que nem sequer se importam conosco? Quantas vezes a gente finge coleguismo apenas para usar alguém como meio de alcançar os nossos fins? Não é algo para se orgulhar, mas esse calcanhar de Aquiles vitimiza a todos nós. Acredito que temos que encarar essa vida de forma mais honesta e respeitosa, e isso inclui a forma como enxergamos uns aos outros. Pautar a existência a partir daquilo que os outros acham ou usar as pessoas apenas como peões no nosso tabuleiro são duas formas de atestar a nossa pequenez. Creio que a melhor forma de se relacionar com o outro é estabelecendo parcerias que não subjugue ninguém, mas que doe sem querer nada em troca. Ao respeitarmos o próximo, estamos respeitando também a nós mesmos, afinal todos estamos debaixo dessa condição comitrágica que convencionamos chamar de 'humana'.

Bom, meu camarada, era isso que eu tinha pra falar. Espero que lhe seja útil de alguma forma. Agradeço por esse canal de comunicação e espero que continuamos a conversar por muitos e muitos anos.

Amorosamente,
Jessé.

Comentários

  1. Oi Jessé, gostei desse formato de escrita"cartas". Ainda não li esse livro, mas está na lista.

    Abs.

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