Resenha: O Sol é para Todos

Título: O Sol é para Todos
Autor: Harper Lee
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 364

Nota: 5/5 

O Sol é Para Todos, um clássico da literatura norte-americana, foi publicado pela primeira vez em 1960 e desde então vem encantando e emocionando leitores de todo o mundo. Nessas páginas encontramos a história de Scout, uma garotinha que vive no condado de Maycomb, uma pequena vila do Sul dos Estados Unidos. Com o seu olhar inocente e curioso sobre tudo que a cerca, ela nos conta sobre as aventuras com seu irmão, Jem, e o seu pai, Atticus. Scout sempre está querendo ver e saber de tudo que acontece na pequena cidade. Isso se intensifica quando Dill, o sobrinho de uma das senhoras que moram em Maycomb, chega à cidade durante as férias e torna-se o seu melhor amigo. Juntos com Jem, eles elegem a vida e a casa de Boo Radley, o homem mais recluso da cidade, como a maior preocupação de suas férias: eles querem fazê-lo sair para finalmente vê-los, pois desde quando nasceram ele não bota a cara para fora da janela.

Em meio a tantas peripécias infantis, brigas e chamegos com a cozinheira da casa, Calpúrnia, Scout vê a vida de sua família mudar drasticamente quando o seu pai, um dos principais advogados da cidade, aceita defender um negro nos tribunais que estava sendo acusado injustamente. Em um Sul dos Estados Unidos pós-guerra civil que nunca aceitou a derrota e que mantém o racismo institucionalizado como uma da bases da vida comum, ver um branco defendendo um negro contra uma acusação de outros brancos faz toda (ou quase toda) a cidade se virar contra Atticus e seus filhos. Na escola, torna-se comum as perseguições contra Scout e Jem, que se vêem obrigados a aprender na marra sobre uma das facetas mais terríveis do ser humano: o preconceito racial.

Scout, com seu olhar de criança arteira, vê se desenrolar diante de seus olhos injustiças tamanhas que, até mesmo com sua pouca idade, percebe como extremamente escandalosas. A partir daí, a todo momento ela se questiona como as pessoas conseguem ser tão horríveis com uma pessoa e ao mesmo tempo seguirem suas vidas normais, sem nunca questionarem a si mesmas a cerca de suas maldades  (é possível relacionar isso tudo com a 'banalização do mal', termo da filósofa Hannah Arendt). Aos poucos, ela vai percebendo a maldade e a hipocrisia que muitas vezes desponta nos seres humanos.

Com uma prosa ao mesmo tempo suave e forte, O Sol é Para Todos nos convida a, a partir dos olhos de uma criança, refletir sobre a vida comum e os seus absurdos, mas também as suas belezas. Scout nos guia por uma sociedade totalmente racista que, baseados em uma falsa ideia de supremacia, transforma a vida dos negros em um inferno. No entanto, ela também vivencia e se sensibiliza com momentos de raro encanto, como no episódio em que visita a igreja dos negros com a empregada de sua casa, Calpúrnia. Aliás, esta personagem, faça-se justiça, é uma das mais importantes para mostrar a Jem e Scout que a cor da pele não torna ninguém melhor ou pior, e a sua presença na casa tem o peso de uma mãe para as crianças. Talvez por isso Atticus sempre tenha feito tanta questão de que ela permanecesse trabalhando com eles.

Entre espasmos de ódio e lágrimas de ternura, a leitura desse livro nos desperta para a inocência humana que trata a todos igualmente e luta por justiça. Com personagens tão humanos que chegam a doer, o enredo se desenrola e nos envolve na vida cotidiana desses adultos e crianças que, mesmo em meio aos maiores contratempos, nos ensinam que sempre é tempo de ser gentil.

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